Por: Isabel Fomm Vasconcellos*
Quando, há quase uma década, o Dr. Elsimar Coutinho, professor de ginecologia da Universidade Federal da Bahia e cientista respeitado internacionalmente, lançou seu livro “Menstruação, a Sangria Inútil”, o mundo desabou sobre a cabeça dele. Os médicos entraram em polvorosa e as mulheres também. Afinal, para os doutores, menstruação é um sinal de saúde e um termômetro para saber se está indo tudo bem no aparelho reprodutor feminino e para muitas mulheres menstruar é quase uma afirmação de sua feminilidade.
Hoje, anos depois desse primeiro impacto, muitos ginecologistas já suspendem a menstruação de suas pacientes e muitas mulheres estão convencidas de que livrarem-se desse incômodo mensal pode ser uma benção.
Mas nem tudo são flores nessa conversa e ainda há muita polêmica em torno do assunto.
Um dos mais fortes argumentos contrários à suspensão de menstruação através do uso de medicamentos era o de que não se saberia que consequências isso poderia trazer à saúde das mulheres, a longo prazo.
Bom, se pensarmos que estamos tomando pílulas anticoncepcionais há quatro décadas, logo perceberemos que não estamos, de fato, menstruando. Isso porque a mesntruação é, por definição, resultado da ovulação e a mulher que faz uso das pílulas não ovula (lembre-se que o outro nome da pílula é exatamente anovolutório) e, portanto, não menstrua. Ela tem, é claro, um sangramento mensal, quando dá aquela pausa entre as cartelas, mas esse sangramento não é menstruação. É apenas sangramento mesmo, por deprivação dos hormônios da pílula.
Assim, algumas mulheres, junto com seus ginecologistas, começaram a emendar as cartelas de pílulas em épocas em que menstruar não lhes seria conveniente. Por exemplo: a cartela está acabando e o sangramento virá extamente no fim de semana em que você vai para a praia com o namorado novo. Solução: comece imediatamente a tomar as pílulas da cartela seguinte e deixe para sangrar só no outro mês. Existem algumas pílulas com as quais não se deve fazer isso, portanto, antes de emendar cartelas é preciso consultar o seu médico, ainda que por telefone.
Mas a indústria também colocou no mercado, nos últimos anos, anticoncepcionais que suspendem a menstruação. Pílulas, dius de progesterona e até um implante (que dura 3 anos) e alguns injetáveis protegem a mulher da gravidez indesejada e ainda suspendem a sua menstruação.
Mesmo assim, ainda recebo muitas comunicações, em meu programa de TV, de mulheres que querem parar de menstruar e não encontram médicos que concordem com isso.
Não menstruar é um novo direito das mulheres. As que sofrem horrivelmente com a menstruação, seja porque têm cólicas, inchaços ou aquelas TPMs bravas que as fazem perder a cabeça por qualquer motivo, ou mesmo aquelas que têm endometriose, encontram grande alívio na suspensão de suas menstruações.
Além disso é preciso compreender que a menstruação é um fenômeno da mulher moderna. Dito assim, parece estranho, mas é verdade. Nossas antepassadas raramente menstruavam porque viviam tendo um filho atrás do outro, estavam sempre grávidas e, depois, amamentando. Nós, mulheres modernas, que optamos por ter poucos filhos, menstruamos muito mais que as nossas avós e, por isso, adoecemos mais do que elas, com endometrioses, miomas e outras patologias típicas de quem menstrua demais.
Por isso, se você sofre com a sua menstruação, não hesite em procurar um bom ginecologista que vai achar a melhor maneira de livrar você desse incômodo, porque hoje existem muitas maneiras de fazer isso.
Saiba que não menstruar é também um novo direito que a ciência conquistou para nós e não tenha medo de exercê-lo, desde que é claro, sob supervisão médica.
Um abraço
Isabel.
*Isabel Fomm Vasconcellos é produtora e apresentadora do Saúde Feminina (de segunda a sexta, meio dia, Rede Mulher de TV) e autora, sendo “Sexo Sem Vergonha” seu último livro, publicado pela Soler Editora.
www.isabelvasconcellos.com.br