Por: Albangela Ceschin Machado*
Diversos estudiosos tem se dedicado, já há algum tempo, a entender como funciona este sentimento; vários deles antropólogos, sociólogos, historiadores, psicólogos e psiquiatras, dentre outros, discorreram sobre o tema.
A antropóloga Helen Fisher da Universidade Rutgers em Nova Jersey (USA) relata que a paixão é vista sobre a ótica de diversas sociedades e é o caminho para se entender mecanismos como liberdade, poder e submissão feminina. Com base em pesquisas da Dra. Helen Fisher, autora do livro The Anatomy of Love, pode-se fazer um quadro com as várias manifestações e fases do amor e suas relações com diferentes substâncias químicas no corpo:
Manifestação | Conceito | Substância mais associada |
Luxúria | Desejo ardente por sexo | Testosterona |
Atração | Amor no estágio de euforia, envolvimento emocional e romance | Altos níveis de Dopamina e norepinefrina Baixos níveis de serotonina |
Ligação | Atração que evolui para uma relação calma, duradoura e segura. | Ocitocina e vasopressina |
A paixão pode ser um indicador de saúde mental, segundo o psiquiatra James Leckman da Universidade de Yale (USA), que afirma, ainda, que existem pessoas que nunca se apaixonarão como, por exemplo, os autistas que desconhecem os sentimentos de ligação com outro ser.
No último Congresso Brasileiro de Psiquiatria em Porto Alegre, ocorrido em outubro deste ano, a psiquiatra e pesquisadora italiana Donatella Marazziti apresentou um estudo científico, realizado na Universidade de Pizza, que explica mudanças nos níveis de testosterona onde o homem apresenta uma diminuição e a mulher um aumento deste hormônio enquanto estão apaixonados.
A estudiosa refere um equilíbrio hormonal que auxilia na aproximação entre os indivíduos; com menos testosterona os homens ficam menos agressivos e as mulheres mais confiantes. Trata-se de alterações químicas e hormonais e podem durar de seis meses a três anos.
A neurociência vem demonstrando que emoções e sensações vividas na paixão são produtos de um sistema extremamente complexo, mediado por reações biológicas, em determinadas áreas cerebrais. É sabido que o sistema límbico é fundamental para o controle da atração sexual e da paixão. Informações de todos os órgãos dos sentidos convergem para a amígdala, que atribui sentido às emoções e fornece as reações adequadas, como, por exemplo, medo e fuga, ativadas de modo involuntário. Isso explicaria o mecanismo quase instintivo da paixão, quando as pessoas sequer reconhecem algumas das suas atitudes.
Alguns cientistas comparam os sintomas do estado de enamoramento (paixão) com o quadro psiquiátrico denominado “desordem obsessiva compulsiva” (DOC), pois em ambos os casos os processos bioquímicos que ocorrem no organismo são similares.
Assim foi comprovado no estudo realizado pela psiquiatra da Universidade de Pisa na Itália, Donatella Marazzitti, que indica que a serotonina, neurotransmissor que atua como sedativo no cérebro, apresenta níveis significativamente baixos na fase mais intensa do enamoramento, o que explicaria as reações ansiosas e agressivas do enamorado, que são equivalentes, em termos bioquímicos, a de pacientes que apresentam DOC.
Isto não significa que o amor seja considerado uma enfermidade, mas sim que pode, especialmente na sua primeira fase, ter características similares a alguns transtornos psicológicos. Assim explica a psicóloga e terapeuta familiar, Elena Andrade:
“Nas primeiras fases do enamoramento a pessoa se encapsula. Adaptam-se as características do outro e do seu ideal para que componha com suas necessidades.”, diz a estudiosa, que esclarece que esta distorção da realidade é normal nos enamorados, porém pode converter-se em patologia se transformada em algo permanente.
Pesquisa ocorrida neste ano, realizada em dez capitais brasileiras, pela Profa. Dra. Carmita Abdo da Faculdade de Medicina da USP constata que os homens se apaixonam mais vezes que as mulheres ao longo da vida; os homens relatam por volta de quatro envolvimentos que consideram passionais e as mulheres apenas dois.
É importante considerar que é da natureza humana vivenciar a experiência da paixão, no entanto este sentimento não se sustenta por si só e por todo o tempo na vida das pessoas.
A energia despendida durante este período leva a um desgaste importante, pois consome o indivíduo de forma a prejudicá-lo no seu dia a dia se considerarmos que a qualidade de vida envolve outros fatores importantes e necessários para o convívio social saudável entre pessoas. Daí a importância de se entender que a paixão tem tempo limitado de duração e, para poder viver-se com qualidade, é preciso que este sentimento se transforme em um relacionamento com bases mais sólidas como, por exemplo: confiança, respeito, admiração e amor.
A qualidade de vida é construída a partir de sentimentos e emoções, as quais gratificam e satisfazem o viver e o conviver de maneira a trazer tranqüilidade e prazer.
O aspecto mais importante a ser considerado neste tema “paixão” é a consciência de sua finitude e a credibilidade de sua transformação em um sentimento mais duradouro, que permite ser possível a realização pessoal e compartilhada.
*Albangela Ceschin Machado
Terapeuta de casal e sexualidade
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