Por: Carla Nechar de Queiroz*
Hoje, antes de iniciarmos um novo assunto, gostaria de publicamente agradecer aos indivíduos que têm enviado suas dúvidas, perguntas relacionadas aos temas anteriormente tratados, comentários e críticas. Afinal, escrevo para vocês e preciso saber um pouco do que vocês estão pensando sobre meus textos.
Vamos tratar hoje sobre o relacionamento do profissional fonoaudiólogo e de problemas respiratórios. Muitos podem estar pensando que não existe um relacionamento e que quem resolve os problemas de respiração são os médicos pneumologista, alergista e/ou otorrinolaringologista (ORL). Estes não estarão completamente enganados mas a respiração em si é uma função humana muito mais complexa do que possamos imaginar. Vamos então falar um pouco da respiração.
A respiração é um reflexo tanto que o recém-nascido já é capaz de realizá-la. É com o ar que respiramos que produzimos a voz, que usamos para expressar nossos pensamentos, idéias e sentimentos. Respirar “fundo” (depois veremos aonde está o fundo) ajuda a relaxar pois, para fazer o ar chegar lá no “fundo”, temos que nos desligar de todo o resto e pensar e sentir os movimentos que estamos fazendo. Além disso, a função mais biológica da respiração é realizar a troca de gás carbônico pelo oxigênio, para que as células do corpo continuem a funcionar e a manter o nosso corpo em equilíbrio. Em uma comparação bastante prática e simples, a respiração é o caminhão de lixo das nossas células. Com esta perspectiva, imaginem o que significa não respirar de maneira adequada…
Nenhum de nós pensa no como respira, no quanto de ar devemos deixar entrar (chamada inspiração) e que temos que fazer força para que ele saia (ou expiração). Se assim fosse, ficaríamos cansados de respirar. Infelizmente, isso é o que ocorre com os indivíduos que têm asma e/ou bronquite ou com aqueles que, por problemas de obstrução do nariz ou em algum outro ponto das vias aéreas superiores (VAS), respiram pela boca.
Aqueles que sofrem de bronquite, ou asma devem procurar um pneumologista ou às vezes um alergista, pois é da competência deles o tratamento medicamentoso desta doença. Já os que apresentem algum tipo de obstrução das VAS devem recorrer à um ORL para realizar um exame detalhado e descobrir o que está causando a obstrução e exatamente aonde ela está ocorrendo. Nessa nossa grande cidade de São Paulo, aonde eu vivo, os níveis de poluição são muito altos e as alergias estão se tornando um problema crônico na população. As alergias mais comuns das VAS encontradas na nossa área de trabalho são rinites e sinusites. É impressionante como 8 entre 10 pessoas relatam sentir o nariz coçando, o nariz tapado a maior parte do tempo, têm o nariz escorrendo com freqüência e por aí afora. Provavelmente você …. Qual de nós não conhece uma pessoa alérgica ou tem um parente próximo que sofra com isso? Por isso, muitas vezes o tratamento das sinusites e rinites passa também pelas mãos de um alergista. Infelizmente, sabemos que as alergias NÃO TÊM CURA pelo menos hoje em dia. Quem sabe, nos próximos anos, pois as pesquisas estão bastante adiantadas. Mas, isso não significa que elas não possam ser tratadas e com sucesso relativo.
Mas, afinal, onde o fonoaudiólogo se encaixa neste quadro? Este profissional aparece quando há uma obstrução das VAS. Um indivíduo que tenha desenvolvido o hábito de respirar pela boca é o elo entre o ORL e o fonoaudiólogo Os fonoaudiólogos são profissionais habilitados para adequar a respiração, ensinando e dando condições para que o indivíduo respire novamente pelo nariz e não mais pela boca. Para tanto, o indivíduo já deve ter feito um diagnóstico e se tratado de acordo com as orientações do médico. Afinal, para poder respirar pelo nariz, seja lá o que estivesse causando a obstrução deve ter sido removido.
Isso, apesar de óbvio, nem sempre é visto como tal. É imprescindível que o fonoaudiólogo esteja informado e entenda que, se procurado por uma pessoa buscando tratamento que envolva, em maior ou menor grau, o sistema respiratório, este deve ser encaminhado á um ORL de confiança para que uma avaliação seja realizada. Com grande freqüência, porém, os próprios indivíduos que nos procuram não são esclarecidos o suficiente do porquê devem procurar outro profissional e acabam por não fazê-lo. Por isso, o fonoaudiólogo deve ter as informações para mostrar aos indivíduos a importância e a necessidade desta visita médica. O trabalho do fonoaudiólogo pode ser inteiramente comprometido caso um diagnóstico não seja feito ou seja mal feito. Não podemos esperar uma melhora tão plena em um indivíduo que tenha rinite quando comparado à melhora esperada para um indivíduo que tenha tido, por exemplo, as adenóides retiradas. São casos de tratamento fonoaudiológico semelhantes mas com perspectivas completamente diferentes. E isso deve ser conversado e explicado par o indivíduo. Um diagnóstico sobre a situação do nariz é imprescindível.
Da próxima vez estaremos discutindo mais a fundo a respiração adequada, sem dificuldades, para, em seguida, falar daqueles que não conseguem ou não podem respirar corretamente para que, depois, tratemos sobre o tratamento desses indivíduos. Aguardo vocês e suas perguntas.
* Carla Nechar de Queiroz é Fonoaudióloga chefe do Serviço de Fonoaudiologia da SPO
Formada pela EPM (atual UNIFESP) – Mestrado na Illionois State University – CRFa. 5263