Por: Sônia Blota Belotti*
Hoje vou utilizar o texto e as considerações de Thérese Bertherat, criadora da antiginástica, como base de uma reflexão sobre a importância de substituir a idéia de corpo bonito pela de corpo harmonioso e assim, apropriar-se da própria vida.
“Neste instante, você onde estiver, há uma casa com o seu nome. Você é o único proprietário, mas faz tempo que perdeu as chaves. Por isso, fica de fora, só vendo a fachada. Não chega a morar nela. Esta casa, teto que abriga suas mais escondidas lembranças, é o seu corpo”.
Na casa que é o seu corpo, as paredes têm ouvidos. As paredes que tudo ouviram e nada esqueceram são os músculos. Nas fibras de sua carne está escrita toda a sua história, do nascimento até hoje. Temos, na verdade, seis sentidos: o corpo usa a pele, os líquidos mais profundos, os ossos, para registrar tudo que ocorre com ele. Para aqueles que sabem decifrá-lo, o corpo é um registro vivo de vida transmitida, de vida levada, de esperança de vida e de amor.
Seu corpo de verdade – antes dinâmico e feliz por natureza (lembra-se o quanto seu corpo e o prazer da vida se confundiam na sua infância?) — foi sendo substituído por um corpo estranho que você aceita com dificuldade ou, no fundo, rejeita.
Você pode fazer algo para mudar isso, liberar-se da programação de seu passado, assumir seu próprio corpo e descobrir possibilidades ainda inéditas.
Normalmente confiamos a responsabilidade de nossa vida, de nosso corpo aos outros: médicos, pais, marido. Até a frigidez às vezes nada mais é do que rigidez… Nosso corpo somos nós. Somos o que parecemos ser. Mas não admitimos, às vezes nem temos coragem de nos olhar!
Confundimos o visível com o superficial. Valorizamos tudo que se passa na nossa cabeça, passamos muito tempo pensando o quanto somos inteligentes. Mas o corpo, que não é menos misterioso, que é indissociável da cabeça, só é objeto de críticas, de perguntas superficiais e mal feitas. Contamos apenas com os nossos olhos, com as sensações de dor e, no máximo, de tato para obter informações sobre nós mesmos. Por censurarmos nossas percepções internas e diminuirmos nossas reais dimensões, temos a impressão de não existir suficientemente. Não tendo a posse do corpo, não podemos achar prazer nele e na vida.
Insatisfeitos conosco, em vez de aprofundarmos o conhecimento interno, acrescentamos a ele elementos externos: roupas, que em vez de serem usadas, nos usam. Incentivamos a expressão verbal dos filhos, encorajando-os a usar a fala para esconder os sinais corporais de perigo. Até algumas “expressões corporais”, podem não passar de automatismo, imitação sem sentido.
Antes de fazer exercício, de conformar-se com alguns problemas sexuais, de fazer uma análise verbal, é preciso o trabalho preliminar de tomada de consciência do corpo. Como o artista prepara a argila ou a tela, devemos preparar o corpo antes de usá-lo, torná-lo um “corpo lúcido”, que toma iniciativas, que pode comandar a vida.
O corpo é um ser multilíngue. Ele fala através da temperatura, da cor, do rubor, do calor da excitação, da frieza de falta de convicção. Fala com a queda do ânimo, os saltos do coração, o vazio do peito. O corpo se lembra, os ossos, as articulações se lembram. A memória se aloja em imagens e sensações nas próprias células. Como uma esponja cheia de água, um toque, um momento de atenção, são suficientes para fazer jorrar uma história de recordações.
No mundo da imaginação, dos contos, como que encarnado por propriedades mágicas, o corpo tem dois pares de orelhas, um para ouvir o mundo, outro para ouvir a alma; dois pares de olhos, um para a visão normal, outro para a vidência; dois tipos de força: a dos músculos e a invencível força da alma!
Leituras interessantes sobre o tema:
O corpo tem suas razões – Therese Bertherat
Consciência pelo Movimento – Moshe Feldenkraiss
CorpoMente – Ken Dychtwald
Integração Psicofísica – Rosa Maria Farah
* Sônia Blota Belotti é Psicóloga e Psicoterapeuta – CRP 12682-3
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