Por: Isabel Fomm Vasconcellos*
É inegável que a pílula anticoncepcional foi decisiva na libertação das mulheres para a vida sexual. Quando apareceu, no começo dos anos sessenta, causou uma verdadeira revolução.
Quarenta anos depois, as pílulas evoluíram muitíssimo. Têm hoje uma dosagem muitas vezes menor de hormônios e, portanto, efeitos colaterais indesejáveis diminuídos drasticamente.
Existe, no mercado, uma incontável variedade de pílulas anticoncepcionais. E cada uma delas é adequada para um momento na vida da mulher, ou para um tipo de mulher. Existem pílulas para quem quer ter diminuída ou suprimida a menstruação, existem pílulas que melhoram a acne das adolescentes, existem as especiais para quem está amamentando e existem até as que apitam na hora determinada do dia, para evitar esquecimentos. Com tanta variedade, só mesmo um médico pode dizer qual é a pílula adequada para cada mulher. No entanto, como somos, no Brasil, campeões de auto-medicação, é muito comum ver-se, nas farmácias, mulheres que compram a pílula indicada pelo balconista ou a que deu certo para a sua amiga. Essa atitude, por si só, já seria bastante temerária, mas existe um risco ainda maior.
Injustificavelmente são vendidas pílulas cuja fórmula tem uma dose cavalar de hormônios, aquelas mesmas, as antigas, que eram as únicas disponíveis no começo da história. Essas pílulas, classificadas como “jurássicas” pelo Dr. César Eduardo Fernandes, ginecologista e professor da Santa Casa, são justamente as mais baratas, custando em torno de 3 reais a cartela. E são, por isso mesmo, as mais consumidas pelas desavisadas brasileiras que se auto-medicam, ignorando o risco que estão correndo. As altas doses de hormônios contidas nessas pílulas antigas, predispõem a inúmeros efeitos colaterais e entre eles estão os terríveis problemas trombo-embólicos, que vão de varizes a derrames cerebrais. E esses riscos aumentam muitíssimo quando a mulher é fumante e mais ainda quando é fumante e está acima dos 35 anos de idade.
Não há nenhuma razão, a não ser as razões de mercado, para que essas pílulas “jurássicas” ainda sejam fabricadas e vendidas. Recentemente, o Instituto de Defesa do Consumidor fêz um alerta para esse perigo. Mas as tais pílulas continuam aí, sendo consumidas por mulheres que querem fazer contracepção, irresponsavelmente, sem ir ao ginecologista.
A pílula anticoncepcional é uma conquista importante e deve, sem dúvida, ser usada. Mas nunca como auto-medicação. Para quem não dispõe de convênios médicos, os postos de saúde têm um bom atendimento e, na maioria deles, até se consegue, sem custos, pílulas muito melhores e mais modernas do que estas de fórmula antiga e que deveriam ser retiradas do mercado, dados os riscos que impõem à saúde das mulheres desavisadas.
Um abraço e até a próxima
Isabel
*Isabel Fomm Vasconcellos é produtora e apresentadora do Saúde Feminina (de segunda a sexta, meio dia, Rede Mulher de TV) e autora, sendo “Sexo Sem Vergonha” seu último livro, publicado pela Soler Editora.
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